O Estado da Nação? Um Estado de Alma
🏛️ Exordium
In hoc signo vinces — e nesse mesmo sinal, o país continua a vencer… com as mesmas derrotas de sempre.
Esta semana, o Parlamento voltou a envergar as suas melhores fardas democráticas para o Debate do Estado da Nação — uma espécie de missa solene onde o Governo reza para que ninguém repare na realidade, e a Oposição reza para que alguém ainda repare nela.
Luís Montenegro, agora em segundo mandato consecutivo como Primeiro-Ministro — desde a sua primeira posse em 2 de abril de 2024 — veio garantir que Portugal está melhor. Luís Carneiro, novo líder do PS e ainda à procura do tom, retorquiu que não, que está tudo pior. E o resto do hemiciclo? Um coro desafinado onde o Chega grita, o BE sussurra e os restantes vão afinando conforme o vento.
🇵🇹 Res Publica
“Um novo Parlamento, os mesmos tiques — e um país no modo repetição.”
Este Governo XXV, saído das eleições de 18 de maio de 2025, mantém a liderança de Luís Montenegro e a promessa de estabilidade — apesar de uma AD com apenas 91 deputados, a gerir o país com mais malabarismo do que maioria.
Do lado da Oposição, Luís Carneiro tenta erguer-se como alternativa, mas o discurso político parece ter vindo de um Word antigo: formatado, previsível, pouco responsivo. O Chega, com estrondosos 60 deputados, fez do Parlamento uma arena de indignação permanente. Ventura é agora mais perigoso por ser menos marginal — e mais institucional.
O Bloco de Esquerda, reduzido a um único deputado, teve a cortesia de comparecer — o que, neste contexto, já é quase heroico. E entre os restantes, reina o costume: o PAN com causas, o Livre com planetas, e o PCP com saudades.
– O Estado da Nação? Um Estado de Alma
Ridículos da Semana
- O “debate de ideias”, que rapidamente se transformou num concurso de soundbites para TikTok. Haja modernidade.
 - Luís Carneiro, a tentar parecer combativo enquanto lia o discurso como se fosse a bula de um medicamento genérico.
 - André Ventura, que usou a palavra “vergonha” 14 vezes num só minuto — e ainda assim conseguiu ser a estrela da tarde.
 - Os aplausos da bancada do Governo, tão ritmados e mecânicos que já mereciam ser substituídos por um botão com som pré-gravado.
 - A ausência de propostas novas: todos prometeram tudo — outra vez.
 
Ultima Ratio
O Estado da Nação é o momento em que os políticos fingem que têm soluções, e o país finge que acredita. É um pacto tácito de negação — institucionalizada.

Portugal sobrevive — como sempre. Por inércia, por cansaço ou talvez por teimosia. O debate terminou sem sobressaltos, sem esperança e sem escândalo. E essa talvez seja a pior notícia.
O Estado da Nação? Um Estado de Alma
Voltamos sexta-feira, 25 de Julho, com novas farpas igualmente distribuídas – porque, nesta República, o ridículo é verdadeiramente universal.
