Assim funciona a democracia directa na Suíça…, mas controversa pela “ideologia” das proibições.

Trambolhão nas exportações suíças

A Suíça mantém um superavit comercial com os Estados Unidos que, em 2024, atingiu os 48,5 mil milhões de francos suíços (CHF), pouco mais de 60 mil milhões de dólares. ¡Incomensurável!  Os suíços importam muito poucos produtos Norte-americanos e nunca equacionaram que um dia chegaria um governo estadunidense conservador e nacionalista disposto a defender a economia do seu país.

Tal a Europa, tal a Suíça: primeiro, a irrealidade de que Donald Trump voltaria a perder as eleições, desta vez para Kamala Harris, do Partido Democrata; segundo, não registaram que a iniciativa em equilibrar a balança comercial dos EE.UU. e, consequentemente as taxas aduaneiras com a maioria dos países demasiado desequilibradas, foi uma das propostas que Donald Trump acabou por não executar no seu primeiro mandato, de 20 de janeiro de 2017 a 20 de janeiro de 2021.

A falta de memória de muitos líderes políticos globais e a fé de que os EE.UU. continuariam dispostos a pagar facturas de meio Mundo em nome da defesa do Ocidente, mantinha também a bonança nas transações comerciais….

Viveram-se décadas de ouro para os exportadores para o mercado Norte-americano. Só que Donald Trump não se perfila como o bom da história como fizeram, primeiro Barack Obama e depois Joe Biden. O actual presidente dos Estados Unidos tem a clarividência que a América importa produtos desnecessários e que pode RE industrializar-se em sectores que já liderou: é uma questão de vontade política e empresarial, porque os EE.UU. produzem quase todas as matérias-primas essenciais à vida global.

Ora o alvo de Donald Trump são os países com maiores benefícios na balança das trocas comerciais. Com um superavit astronómico, a Suíça é um dos alvos preferências: ou compra mais ou paga muito para vender nos Estados Unidos.

Suíços pagam39% de taxas aduaneiras para vender aos EE.UU. a maioria dos produtos. Salvam-se alguns farmacêuticos, químicos e o ouro. Nem o chocolate escapa. Mas o Financial Times revela notícia preocupante. Os Norte-americanos começam a tributar importação de ouro em barras de 1 quilograma. Recordar que a Suíça vive das exportações e a América e Alemanha são os maiores clientes.

Lê-se na edição da semana do ‘Swissinfo.ch’: “Não é comum ver a Suíça no centro de uma disputa comercial global, muito menos sendo alvo de medidas punitivas de um grande parceiro”. Pois é, os EE.UU. impuseram uma taxa aduaneira de 39% sobre a maior parte dos produtos suíços.

O governo helvético queixa-se de que a “taxa é mais que o dobro da aplicada pelo governo Trump à União Europeia e bem mais alta que as impostas ao Reino Unido e ao Canadá”. Poderiam ter razão se tivessem pensado nas consequências de tremendo desequilíbrio há uns 10 ou 20 anos atrás. Em boa verdade, trata-se do tarifário mais elevado que o presidente estadunidense mandou aplicar a um país do designado primeiro Mundo.

Agora, o governo helvético compromete-se a manter negociações com Washington. Importa determo-nos numa realidade inquestionável: A Suíça registou no final de 2024, 9,034 milhões de residentes e tem uma economia assente nas exportações, precisamente para os EE.UU. e para a Alemanha, os seus dois maiores compradores.

A taxa de 39% aplica-se para quase todos os grupos de produtos, com apenas uma faixa restrita de isenções, principalmente para ouro e produtos farmacêuticos. Neste contexto e fazendo um exercício aritmético, a Suíça encara uma tributação média efectiva levemente acima de 12%. Ficam de fora exportações importantes como relógios, ferramentas industriais e chocolates. Mas o pior pode estar apara suceder: De acordo com o Financial Times os EE.UU. já se encontram a aplicar uma taxa sobre importação de barras de ouro de um quilograma, o que poderá afectar ainda mais as exportações suíças.

Trambolhão nas exportações suíças

Trambolhão nas exportações suíças
Trambolhão nas exportações suíças

De qualquer modo – faça-se justiça – na Suíça encontramos dezenas de PME’s de dispositivos médicos que ajudam a desenvolver indirecta e directamente o sector da saúde, mesmo numa perspectiva global: ferramentas cirúrgicas de precisão, equipamentos de diagnóstico, prevenção e tratamento, componentes para implantes médicos de várias especialidades. Recordo a Straumann, principal fabricante global na área da implantodontia e regeneração de tecidos orais, que se destaca na pesquisa e desenvolvimento de soluções para implantes dentários, instrumentos cirúrgicos e biomateriais.  

Texto por José Maria Pignatelli (Texto não está escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico).

A Suiça

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